Do Livro: Minha Fama de Mau.

Sou fofoqueiro nato, admito: adoro ler a vida dos outros! Então, quando vi na prateleira novinho em folha e por simpáticos três reais, não resisti e comprei Minha Fama de Mau, biografia de Erasmo Carlos.
A oportunidade de conhecer a vida dum dos compositores mais populares do país, contado por ele mesmo, desde sua amizade com Tim Maia e passando pela Jovem Guarda e suas parcerias com Roberto Carlos, não poderia ser desperdiçada.

No Caminho Certo
Minha avó tinha uma fé em Santo Antônio que a levava a rezar até se esgotarem todas as orações conhecidas. O pedido era sempre o mesmo: dias melhores para nós. E como se previsse algo, foi ela quem me deu o meu primeiro violão. A via-crucis da minha mãe - iniciada após a separação do meu padrasto - duraria a eternidade de uns três anos. Ela trabalhava duro para garantir a minha "roupa da missa". A imagem dela encerando o chão com o escovão (uma espécie de vassoura com uma escova grande na base) e lavando roupa para os treze moradores da casa, de pés descalços, até altas horas, sobretudo nos dias de chuva, doía em mim.
Vieram os Snakes, o Exército, Carlos Imperial e... a parceria com Roberto Carlos. As cobranças da família atingiram o auge do período em que comecei a compor, o que geravam comentários do tipo:
- Era só o que faltava. Ele agora fica o dia inteiro no blém-blém-blém, tocando violão, enrolando a pobre mãe, que se mata de trabalhar.
Quando recebi meu primeiro trimestre de direitos autorais pela versão de Splish Splash e a coautoria de Parei na Contramão, ambas gravadas por Roberto Carlos, joguei o dinheiro vivo em cima da cama e, antes de dizer de onde vinha, brinquei:
- Mãe, roubei esse dinheiro da padaria.
Uma brincadeira de mal gosto. Ela ficou possessa e, com lágrimas pelo rosto, saiu pela rua falando aos céus:
- Meu Deus, meu Deus, meu filho é um ladrão!
Somente com a negativa do surpreso e boa-praça seu Antônio da padaria, que não dera falta de dinheiro nenhum no seu caixa, e com a minha presença pedidndo perdão pela péssima piada, é que ela se acalmou. Ao saber da verdadeira origem da bolada, as lágrimas continuaram, só que agora eram de alegria.
Esse dia seria o início de uma vida diferente para nós. Uma nova etapa. Eu começava numa profissão. Era um embrião de compositor e estava no caminho certo. As coisas iriam melhorar, e finalmente minha mãe não teria que encerar casarões antigos nem lavar pilhas de roupas alheias. Eu e meu violão não deixaríamos...

depois teclamos.
Imagem: blogdomauroferreira.blogspot.

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